
ESCALADA
Escalada em rocha: Quais são os tipos de fundamentos existentes para o estilo livre
Fonte: Blog de Escalada - Autor: Luciano Fernandes
---- Maio de 2015 ----

Escalada não é um esporte fácil nem muito fácil de explicar a uma pessoa leiga. Graduações de vias, tipos de escalada e estilos parecem um outro idioma. Procurando desmistificar um pouco o assunto, já foi publicado aqui na Revista Blog de Escalada um artigo explicando o que seria a escalada em estilo livre. Dentro do estilo livre há várias técnicas que devem ser utilizada pelos escaladores em geral.
Dentro de cada técnica existe ainda o estilo que uma determinada via possui. O estilo que a via possui (fenda, chaminé, positiva, negativa, etc) depende da predominância da técnica necessária durante toda a sua ascensão. Por isso durante o amadurecimento de uma pessoa que escala há naturalmente uma preferência por uma técnica ou outra. Assim como em cada esporte existem vários fundamentos a serem aprimorados, na escalada também existe esta necessidade.
Por isso assim como no futebol (chute, passe, cabeceio, condução, lançamento, etc), basquete (passe, arremesso, marcação, bloqueio, etc) a escalada apresenta também alguns tipos de fundamentos. Os principais são técnicas de agarras , oposição, entalamento (pés e mãos), chaminé, diedro, aderência.
Técnica de agarras
Primeiramente antes de saber quais as técnicas de agarras é necessário entender o que é uma agarra de escalada. Denomina-se agarra de escalada toda e qualquer saliência natural da rocha. Podem ser pequenos degraus (conhecidos como regletes), buracos, batentes, etc. Futuramente iremos elaborar um artigo exclusivo sobre os tipos de agarras existentes em rocha, assim como seus sinônimos e nomenclaturas regionais.

Como na escalada em livre usa-se somente os pés e mãos na rocha para escalar, estas saliências são usadas para colocarmos nosso equilíbrio. O objetivo principal é colocar a sustentação do peso corporal em cima dos pés e das mãos. Por este motivo é que o escalador em rocha, usualmente, está com pouco peso corporal. Este tipo de técnica é muito usada em paredões homogêneos.
Durante um curso de escalada em rocha ou com a contratação de um personal de escalada aprende-se a maneira certa de usar as mãos e pés em cada agarra. Portanto a técnica de agarras é tanto para as mãos quanto para os pés. Quanto melhor é o trabalho de pés de um escalador, menos força e resistência de seus baços é exigido em uma escalada.
Oposição
Para evitar que os braços e pernas fiquem sobrecarregados, o escalador deve também movimentar o corpo para otimizar a resistência dos braços para ampliar as possibilidades de uso de agarra. Desta maneira deva aprender a utilizar o peso do corpo de maneira a equilibrar-se em algum tipo de agarra. Esta técnica da-se o nome de oposição.

Como se assemelha muito ao movimento de um bailarino, pessoas com mais repertório de movimentos tendem a cansarem menos os braços e pernas por conta deste tipo de técnica. Aos olhos de alguma pessoa leiga em escalada em rocha pode parecer realmente que o escalador esteja dançando.
Ficar em oposição na escalada implica em utilizar o próprio peso do corpo para compensar algum tipo de disposição de agarras de escalada e minimizar o uso da força dos braços.
Entalamento
Para muitos teóricos o entalamento é uma subdivisão da categoria de técnicas de agarras. Entretanto com a modernização do esporte e o surgimento de escaladores especialistas neste tipo de recurso, é reconhecido como uma disciplina a ser aprendida separadamente. A técnica de entalamento, geralmente, é usada por escaladores mais experientes.

A técnica consiste em entalar (fazer entrar ou entrar em local estreito e apertado) mãos (punhos e dedos), pernas e pés. Este tipo de entalamento pode ser feito em fendas, buracos e fissuras. Há casos particulares que o escalador entala o próprio corpo em uma fenda em um estilo conhecido como off-width.

Durante uma escalada, enquanto um braço e pé está entalado, os outros estão progredindo na escalada. Este estilo não é dominado facilmente por iniciantes e é considerada uma técnica apurada e muito particular.
Chaminé
A técnica de chaminé é um caso particular que mistura técnica de oposição e entalamento. Este tipo de fundamento é utilizado quando há uma fenda bem larga, geralmente entre duas paredes relativamente paralelas (estreitas, médias e largas), e o escalador utiliza somente as costas e pés para ascender. O movimento de escalada em chaminé é feito de maneira coordenada com os pés chapados na parede e as costas em oposição à parede.

Este tipo de escalada é lento e gradual e apesar de não exigir muito do escalador fisicamente no início, é considerado dos mais cansativos pois mentalmente exige muita concentração. O processo durante rochas muito abrasivas acaba ralando as costas do escalador. Esta técnica é muito usada em conquistas de cumes e em montanhismo.
Diedro
A técnica de diedro é utilizada quando há duas paredes que se encontram em um ângulo. Normalmente há uma pequena fissura neste encontro devido à dilatação das duas rochas. Este tipo de técnica é bastante exigida em escalada tradicional em móvel.
Por não ser uma técnica fácil, apenas escaladores avançados sabem utilizar este tipo de trabalho de pernas, que exige bastante força nas pernas e imaginação no uso dos pés.

Aderência
A técnica de aderência aproveita da força do atrito que o peso do corpo possui em superfícies de rochas com inclinação positiva. Geralmente usa-se mãos e pés para equilibrar-se e progredir pela superfície da rocha. Este tipo de estilo exige boa confiança do escalador nas sapatilhas que está usando, além de capacidade de observação e uso dos pés.
Geralmente a parte superior dos pés são usados, para aumentar a força de atrito, e as mãos são colocadas “chapadas na rocha”. Esta disciplina exige muita resistência nos músculos das pernas dos escaladores, sobretudo da panturrilha.
Luciano Fernandes
Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.